terça-feira, 3 de dezembro de 2024

Searinhas do Menino Jesus (2ª edição)


Searinha do Menino Jesus.
Fotografia de Carlos Dalves (http://olhares.aeiou.pt)

Uma tradição que ainda hoje se cumpre no Alentejo é a sementeira das “Searinhas do Menino Jesus”, já referida por A. Thomaz Pires (2) e que se efectua no dia 8 de Dezembro, dia de Nossa Senhora da Conceição.
Consiste esta tradição em semear em pequenos recipientes (pires ou chávenas) com terra, alguns grãos de trigo que são humedecidos com água para germinar, após o que são diariamente borrifados com a mesma, a fim de os rebentos se manterem viçosos.
As searinhas, dedicadas ao Menino Jesus, são utilizadas no presépio e no oratório, assim como são levadas à mesa da Consoada, na crença de que o Menino Jesus abençoe o trigo, de modo que nunca falte pão em casa e na mesa. No dia de Reis (6 de Janeiro), as searinhas devem ser transplantadas para a terra.
Thomaz Pires cita D. José Coroleu (Las supersticiones de la humanidad) quando afirma que as searinhas “(…) recordam as sementes semeadas nos testos pelas mulheres Phrygias, e que levavam ao terrado para germinarem aos raios do Sol.”.
A tradição teve início no século XVI quando o cardeal e teólogo ascético francês Pierre de Bérulle (1575-1629) decidiu adornar o presépio com searinhas e laranjas para que as sementeiras e árvores de fruto fossem abençoadas e dessem muito durante o ano inteiro.
Parece não restarem dúvidas que se trata de mais um aproveitamento cristão duma tradição pagã. Na verdade, a festa pagã do solstício de Inverno que comemorava o renascimento do Sol, foi substituída pela festa cristã do Natal, que celebra o nascimento de Cristo. Daí que usos e costumes que lhe estavam associados tenham sido adaptados ao Cristianismo, pelo que são reminiscência das antigas crenças.

BIBLIOGRAFIA
(1) - PESTANA, M. Inácio. Etnologia do Natal Alentejano. Assembleia Distrital de Portalegre. Portalegre, 1978.
(2)  – PIRES, A. Thomaz. A noite de Natal, o Anno Bom e os Santos Reis. 2ª edição. António José Torres de Carvalho. Elvas, 1928

Publicado inicialmente em 4 de Dezembro de 2013

10 comentários:

  1. Caro Hernâni

    Gostei e aprendi mais uma tradição desse Alentejo profundo, que nós nesta selva urbana em que se tornou Lisboa já não temos. Em Lisboa a única tradição natural que temos é tomar a velha bica!! O resto desapareceu tudo!! Até a água de Caneças!!

    Abração

    Pedro

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  2. Pedro:
    Obrigado pelo seu comentário.
    O Alentejo é em muitos aspectos, um registo vivo de tradições ancestrais.
    Um grande abraço para si, também.

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  3. Meu Caro e amigo Hernâni,

    Eu pessoalmente já tenho a minha a germinar cada dia cresce um pouco mais vai acompanhar no natal e depois passarei para a terra pois tenho um gato que lhe faz uma delícia. Um forte abraço desejos de boas festas e saúde para todos. Gratos estamos todos por estas divulgações bom trabalho.
    Saudações

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  4. Lembro-me, era miúdo de as ver pelo Natal, na montra da sapataria do Senhor Palmela, pai do nosso grande artista bonecreiro,Jorge Palmela junto a um presépio que montava no espaço. Só não sei se esse presépio já era confecção da sua esposa a grande artista D. Maria Luiza.
    João Ferro

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    1. Deveria ser da mãe,Liberdade da Conceição:
      https://dotempodaoutrasenhora.blogspot.com/2019/06/bonecos-de-estremoz-liberdade-da.html

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  5. É sempre um prazer ler o seu Blogue. Parabéns

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  6. Muito obrigado.
    Os meus cumprimentos e votos de um Feliz Natal.

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  7. Penso que é uma tradição que se cumpre noutros locais, nomeadamente na Madeira, onde sempre vi as searas no natal.

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